Acidental
(Hugo Martinelli)
Saio na
varanda e olho pra fora
E ali tão
mundo, quanto mundo afora
De repente
me lembro do quanto tudo é efêmero
Uma
efemeridade de grau, número e gênero
Me lembro
dela, menina atravessando a rua
Um passo
adiante em uma vida tão crua
Onde será
que estaria indo
Quase pude
sentir sua vida se esvaindo
Em não
menos que um segundo
Mais um som
estridente naquele mundo
Três passos
a menos e tudo seguiria normal
Uma
distração a menos e o curso seguiria igual
À minha
volta olho insistentemente
Com uma
sensibilidade assim latente
Um momento
qualquer, uma pessoa qualquer
Será que é
isso mesmo que você quer
Porque será
que me preocupo
Ou disso
ainda me ocupo
Aquela cena
não me sai da cabeça
Do meu lado
um choro como numa peça
De tão real
era quase cruel
Seu corpo
arremessado como fosse papel
Hora,
minuto, segundo e lugar errado
Será que
seu destino estava marcado
É um desses
momentos
Um desses
tormentos
Que às
vezes nos permite
Fazer
perceber que nosso coração palpite
Enxergo
assim a efemeridade da vida
A
fragilidade vívida vivida
O exagero
de uma fração de segundo
Que reduz a
zero nosso tempo no mundo
Porque
somos tão imundos
Em momentos
tão agudos
Seguimos
andando e vamos focados
Sem ao
menos lembrar e sermos tocados
Ou era o
que era pra acontecer
Pra eu
estar aqui escrevendo pra você
Sim, você,
continue a ler
Não pense
que não tem nada a ver
É um sem
tanto de porquês
Que nos
deixa assim a mercê
De uma
existência e um viver
Que a cada
respiro preciso saber
Eu sempre
me senti de fora
Tropeçando
pela vida
O momento
seria agora
E ela ali
no chão, uma desconhecida
Escrevo pra
lembrar um momento
Momento que
cabe dentro de um segundo
Segundo que
me parecia quase fúnebre
Em um
movimento fui tomado por um contentamento alegre
Num
rompante ela se moveu consciente
Tudo o que
me fez ali ciente
Da tristeza
que havia me tomado assim
Se esvaindo
diante da beleza da vida que retornara diante de mim
E o fim,
de repente
não é o fim
Nem pra ela
Nem pra mim